sábado, abril 30, 2005

O direito à indignação

A Margarida C. anda muito interessada no nosso blog, a prová-lo está um comentário feito na noite passada acerca dum post já muito antigo.

Comenta a Margarida C. a tal que acha que somos todos rapazes de atributos peculiares (continua-me atravessada): "O facto de conseguires fazer de um texto, aparentemente "inapropriate", algo poético deixa-me inesperadamente surpreendida. E fico feliz por saber que controlas os teus impulsos."

Tem graça, mas sempre achei que as mulheres gostam muito de linguagem ordinária. Todas gostam. As excepções são pessoas sem prazer sexual que vão para freiras, ou beatas ou outra merda qualquer. Andam é por certo a foder a vida e o juízo de alguém.
As que gostam de linguagem ordinária dividem-se em duas grande sub-categorias: as que assumem e as que não assumem.
As que assumem são gajas sem piada nenhuma. Dizem palavrões, são assumidamente pervertidas, sequiosas de picha, de esperma quentinho. Perdem a piada because what you see is what you get; não há nada a explorar, a descobrir, a conquistar.
As gajas que não assumem têm muito mais graça. Precisamente porque existe nelas um infindável campo onírico (segunda vez em dois dias que uso esta very expensive word) (segunda expressão em inglês que uso neste post, ou estou a ficar snob ou a dar em paneleiro) disposto a ser explorado. E a descoberta desses sonhos, dessas fantasias é de um prazer sem limites. São o tipo de gajas que dizem que nunca se masturbaram, e só de responder a isso ficam imediatamente excitadas.

Ora eu acho que a minha querida Margarida C. está precisamente nesta sub-categoria. Gosta de linguagem porca, mas tem também a noção de decoro e de uma pose feminina condigna, de modo que jamais assumirá tal fraqueza. O que eu acho, de resto, muitíssimo bem. Sei que é mentira, mas dá-me uma ponta absurdamente descomunal! O que acho graça é a fórmula discurso ordinário + bocas eruditas continuar infalível. Falo em seios formosos, em sodomia, em derramamento de esperma, e depois junto-lhe alguma psicanálise de Carl Jung, e eis que está permitido à jovem púdica gostar da prosa e mesmo mostrar-se inesperadamente surpreendida.

Diz também que fica feliz por saber que controlo os meus impulsos. E eu respondo que me dá muito gosto vê-la feliz com os meus travões, apesar de desconfiar que ela, como eu, não é nada feliz por controlar os seus.

Houve quem perguntasse em tempos se o post referido era verídico. Respondo mais uma vez com Fernando Pessoa:

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Sempre achei neste poema a metáfora perfeita para a génese de toda a criação artística, ou mesmo para a arte de viver.

quinta-feira, abril 28, 2005

Silêncio forçado

O nosso blog esteve inacessível desde terça-feira. Não deixa de ser curiosa esta ocorrência imediatamente após algumas expressões públicas de nossa parte pelo apreço à liberdade e livre expressão. Várias teorias nos ocorreram, desde técnicos informáticos dos serviços secretos do Vaticano terem bloqueado o acesso depois de termos descoberto um dos ramos familiares do ex-cardeal Rattzinger, agora Papa Bento XVI; colocámos também a hipótese de um dos putos que lê o blog das miúdas ter uns conhecimentos de hacking e ter resolvido armar-se em engraçadinho, ou a teoria de que o senhor que guarda a internet ter ido de férias e desligado alguma coisa por engano.

Hoje de manhã estava tudo normal outra vez. É um mistério que se adensa. Apelo á participação dos leitores para que possamos juntos deslindar este intrincado enigma.


P.S. A peida da minha personal trainer preferida está cada vez maior. Estive uma semana sem lá ir e eis que mais uns centímetros se juntaram às curvas voluptuosas daquele cú. Chego a por a hipótese de deixar de achar atraente tal massa muscular. É outro mistério que coloco à disposição dos nossos ilustres visitantes, onde irá parar tamanha bolha?

terça-feira, abril 26, 2005

Esta flor continua a por-me lágrimas nos olhos.

Esta flor continua a por-me lágrimas nos olhos. Há qualquer coisa que me faz evocar toda a minha infância, os cheiros, sons e sabores da Lisboa pós-25 de Abril, e me deixa profundamente comovido e saudoso. O 25 de Abril pode ter muitos defeitos, mas foi uma das coisas mais bonitas que já fizemos e da qual temos que nos orgulhar!

sábado, abril 23, 2005

Para mim, Bento há só um!

Separados à nascença II



Hoje acordei com tiques Abruptos

Coisas Simples




Ar Puro

sexta-feira, abril 22, 2005

A Margarida C. é uma granda querida!

O poema que nos foi dedicado pela Margarida C. é um poema zulu, atribuído ao guerreiro M'fod N'sabuk, num dos raros momentos de poesia escrita que nos deixou. Tudo o resto são lanças e feridas. É belo a Margarida fazer uso de um poema escrito por um guerreiro. De alguma forma sintetiza a dicotima dilemática da relação que temos tido esta semana. Uma relação amor-ódio, uma relação agri-doce, como comida chinesa, como a música de John Zorn ou de Stevie Wonder.

Aqui fica a tradução, para quem não é fluente no dialecto sul-africano. Preferi eu próprio usar o castelhano. Me encanta a sonoridade da lingua de Cervantes, sobretudo pronunciada por carnudos lábios femininos, e prefiro imaginar a Margarida C. a falar espanhol (de preferência baixinho, ao meu ouvido) do que zulu:

Es una historia de manana
Es una historia de amor
Es una historia que amor reinera
Por nuestro mundo
Es una historia de mi corazon


Beijos a todas, meus amores!

Estar Zen é uma chatice!

Depois das pazes feitas com as meninas do In-deed, passei dois dias de total ausência de ideias e capacidade de participação neste blog. Apenas um post sobre a morte do Edgar Correia, muito motivado pelo asco que sinto pela ditadura partidária do PCP. Ou seja, a necessidade de lançar farpas deu-me ânimo e vontade de escrever, de agir. Como me disse o caríssimo Mundus: "Eu só te vejo realmente com pica quando entras neste tipo de guerrilhas." Mas é mais por escrito, digo-vos eu. O debate oral é coisa que não me atrai. Pouco modestamente digo-vos que essencialmente por detalhes extra-retórica. Detesto discutir com pessoas que interrompem, detesto degladiar-me com alguém que usa estratagemas de domínio da discussão que se prendem com linguagem não-verbal, com domínio psicológico, pela entoação que dão ao discurso, e não tanto pela clareza e argumentação apresentadas. Odeio peixeiradas, repugnam-me pessoas que levantam constantemente a voz para dar mais força às suas palavras.

Mas esta acalmia com as meninas do In-deed é uma seca. Desmintam-se se me engano, mas a relação estava morníssima no início, aqueceu brutalmente com o despropósito dos meus ataques. Depois, a maldita educação judaico-cristã trouxe-me o arrependimento, o remorso deu no pedido de desculpas e este trouxe a acalmia. Baixou a tensão, a temperatura, esfriou a relação, e cá estamos nós, há dois dias sem contacto. Boring!!

Lá está, as relações perfeitas e imaculadas são as platónicas. Como apenas existem no sonho, nunca se estragam, nunca se desiludem, nunca se confrontam com os lados negativos do elementos. Prefere viver-se na fantasia, na vida sonhada do que na vida vivida. Tem-se medo de dar os passos que materializem o sonho. Tem-se medo que o sonho morra, seja substituido por uma realidade menos agradável. E prefere-se então permanecer no sonho, na solidão, no lado contemplativo da vida, mas triste.

Evoco assim um poema de Fernando Pessoa, evocação essa que dedico às meninas do In-deed. Pode ser que dentro desta tormentosa relação saia algo mais interessante que insultos e ataques (porém, a sugestão da fotografia está ainda de pé!)


Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

quarta-feira, abril 20, 2005

Morreu Edgar Correia

Morreu o Edgar Correia. Outro dos renovadores comunistas nos deixa depois de uma vida entregue a um partido que nunca os mereceu, que não permitiu o delito de pensamento, que os expulsou dos partido depois de décadas de entrega e sacrifícios pessoais, apenas por pensarem e falarem de maneira diferente dos cânones do comité central. E mais uma vez, espero estar enganado, esta morte será abordada arrogantemente pelos dinossauros Jerónimo, Odete e o filhote Bernardino como foi já quando nos deixou o João Amaral. É por estas e por outras que o PCP me enoja, me irrita, e entristece. Como dizia grande amigo meu, também ele um dissidente do PCP, "o Stalin sujou de merda e de sangue o nome do comunismo". O PCP, por ser um dos partidos comunistas mais conservadores e agarrados ao desvio assassino da sua história, está condenado também à morte. Os resultados eleitorais de Fevereiro deveram-se apenas à sorte de calendário e ao encanto do eleitorado pela simplicidade popular do Jerónimo de Sousa. Nos próximos quatro anos haverá certamente muitas oportunidades para Jernónimo mostrar que pela sua cabeça passa apenas a doutrina dura do comité central e a literatura juvenil que lê nos tempos livre. Pode ser que esteja redondamente enganado. O PCP tem hoje um oportunidade de ouro de mostrar uma nova postura.

terça-feira, abril 19, 2005

Post Scriptum ao pedido de desculpas

Num post anterior três dos escribas deste blog mostraram ao mundo os rabos que Deus Nosso Senhor lhes deu. Uma forma bonita de fazermos as pazes seria as meninas do In-deed fazerem o mesmo.

(pelo menos tentei... :-) )

Sofro do síndrome de Tyler Durden

Cheguei a casa depois do trabalho, ligo o portátil, vou ao blog, e qual o meu espanto e estupfacção vejo um post assinado por mim com uma agressividade e sarcasmo deveras desagradáveis. Leio a resposta seca, caio em mim. Não me lembro de ter escrito aquilo, apenas um estranho vazio temporal. Estarei a sofrer de múltipla personalidade? Estarei a sofrer também os efeitos secundários dos estragos sociais que uma minha dupla personalidade tem feito nas minhas ausências? Terá sido por isso que todas as minhas paixões de adolescência foram platónicas?

Leio depois a reacção de uma amiga da Inês L. no In-deed. Sinto-me ainda pior. Envergonhado, triste. O que fazer depois de um erro cometido, como refazer uma relação que podia ser linda? Dois blogs encontram-se, conhecem-se, travam conhecimento, quem sabe namoram, casam até. Tudo poderia ser ter sido assim, mais pacífico, mais romântico. Podiam até ter tido mais tarde bloguesinhos pequeninos, dois ou três.

Não me apetece responder a nada, não me apetece defender de nada. Sou uma besta sexual, um invertido encefálico. Penso com a cabeça da pichota. É assim, não há nada a fazer... Um trauma ainda por descobrir faz-me ser estupidamente agressivo com mulheres. Prometo reflectir profundamente acerca da insinuação feita pela Catarina B. quanto à minha necessidade de contemplação estética do belo masculino. Nas próximas vezes que for ao ginásio vou reduzir o tempo de olhar descarado, perverso e libidinoso para o cú da minha Personal Trainer preferida de 35 para 34 minutos. O tempo que sobrar, pelas minhas contas cerca de um minuto, irei procurar em mim as verdadeiras razões de tal necessidade estética de contemplação.

Aguardo resposta a este humilde pedido de desculpas. Gostaria de viver feliz e harmoniosamente com todas vós.

A Inês L. respondeu.

A Inês L. chegou do dia de escolinha, depois das aulinhas, e respondeu ao nosso blog, no seu blog. A resposta é óbvia. esta retórica faz-me lembrar a última vez que joguei xadrez com o filho de cinco anos do meu primo; já sabe os movimentos das pedras, mas ignora por completo o objectivo do jogo. O que andarão a fazer nos liceus de hoje? Ensinam-lhe o Português sem o ensinar a usar, a pensar previamente antes de aplicar as palavras? (Esta temática merecerá um post posterior.)

Ora aqui vai então a resposta:
Conselho paternalista: leiam bem os enunciados, podem sempre ter mais um ou dois valores no final de um exame. Em última análise, pode determinar a vossa entrada na faculdade.in LuaNova, "É genial, genial!, este Al_Fazema. Eu bem vos dizia! ", 2005:"Se lerem bem, se procurarem na teia de segundos e terceiros sentidos, existe na escrita de Al_fazema uma finíssima ironia, provocações à condição feminina, à pose feminista, e, claro, à condição efémera de adolescente das quatro provocadoras."

É genial, genial!, este Al_Fazema. Eu bem vos dizia!

Para quem não tenha entendido, o meu último post referia-se a um comentário colocado no post "Mais vale só que... ", de Segunda-feira, 18 de Abril, que dizia o seguinte:

"Olá! O acaso fez-me descobrir o vosso blog. Ri-me um bocado e decidi publicitá-lo no meu blog (www.in-deed.blogspot.com). Vocês têm piada! É pena é o Al_Fazema escrever mal...( atrás é com z??... as coisas que se aprende na blogosfera!) Bem, vão lá e mandem um mail para nós! Beijinhos!"

Agrada-me a possibilidade de interacção bloguística e decidi responder aos piropos. Estava um bocadinho tocado, acabara de chegar a casa depois de um jantar russo com muito vodka. A resposta contém algumas provocações de péssimo gosto, mas decerto as meninas irão perdoar. Condescendam, pelo menos, dêem a tão portuguesa segunda oportunidade.

Quero realçar, mais uma vez, o que disse anteriormente acerca do Al_Fazema. Como bem podem reparar no post anterior, não há qualquer referência aos ataques infâmes das miúdas. Aparentemente, minhas caras. Se lerem bem, se procurarem na teia de segundos e terceiros sentidos, existe na escrita de Al_fazema uma finíssima ironia, provocações à condição feminina, à pose feminista, e, claro, à condição efémera de adolescente das quatro provocadoras. Cuidem-se! Provocaram a pessoa errada. Tivessem dirigido a vossa frustração escolástica ao nosso correlegionário Desatino e o resultado seria bem diferente. Sairia da posição de lótus em que se encontra há onze meses e com os seus poderes extra-sensoriais poria um fim definitivo à internet.

Kum karalho!

Quatro gajas, teenagers puras, a cheirar a leite, suponho, como nós muito gostamos, acabam de nos descobrir neste palheiro que é a blogosfera. Hip hip hurra! Estou cheio de ponta, quatro pitas de 16 anos, catano!!! Se não tenho cuidado ainda apanho uma trombose de piça!!

Passemos então à retribuição dos mimos:

O vosso blog é muita giro, tipo: é fixe, e tal! Estilo descontraído, tipo: ya, bué cool. Se não fosse o meu amigo Mundus ter dado uma de erudito no post anterior, referindo o génio literário de Dostoyevsky, sentir-me-ia muito inseguro. Vocês parecem cultas, interessadas e ávidas devoradoras da produção cultural do nosso país. Lêem muito, vão a concertos, cinema, teatro. Ocorre-me perguntar se apreciam o sexo oral, mas parece-me demasiado vulgar. Não o pergunto, então.

Quanto ao Al_Fazema escrever com algumas imprecisões ortográficas cabe-me defendê-lo porque a justiça assim o obriga. O Al_Fazema é um jovem camionista, de braço musculado e doirado pelo Sol, que se interessa demasiado por literatura medieval. Vai daí que passe as viagens a ler manuscritos da época sempre que pára em estações de serviço ou parques na auto-estrada, todos eles com ortografia arcaica e já desactualizada pelas recentes revisões da língua portuguesa e acordos ortográficos. Na essencia, no conteúdo, revela-se um espírito assaz crítico e observador da autofagia da sociedade urbana contemporânea. Al_Fazema é o verdadeiro intelectual, fazendo da lingua mãe um instrumento de virtuosismo retórico. Está acima de qualquer um de nós, muito mais de qualquer adolescente ainda na fase florescente da vida. Leiam-no e releiam-no, jamais julguem entendê-lo. Está acima do céu, perto de Zeus.

De qualquer forma, sejam benvindas, pequenas guloseimas carnais. Banhai-nos com a vossa frescura. Este blog estava a ficar chato (quase tanto como o vosso vai ficar daqui a dois meses, acreditem), mas agora vai arrebitar de certeza!

segunda-feira, abril 18, 2005

Mais vale só que...

Já alguma vez tiveram hóspedes em casa? Se sim, decerto que partilham comigo, algumas nuances das experiências que vou aflorar nesta prosa.
Sou um gajo solidário com os necessitados, sou sim senhor, e gosto de ajudar os amigos quando precisam de ajuda.
Contudo, partilhar o nosso lar com outrem, exige sempre, como é lógico, alguma adaptação de ambas as partes.
Da minha parte exigiu com certeza. De facto, e à luz dos eventos ocorridos no período de tempo que abriguei um estimado familiar no meu doce lar, até aprendi umas coisas.
Antes de mais, aprendi a gerir muito melhor o “budget” mensal. Os gastos adicionais na água, luz e gás foram de tal forma elevados, que tive de aprender uma hábil ginástica financeira, para equilibrar um pouco as contas, e não ter de ser obrigado a ir vender a revista “Cais” para o cais de sodré.
Aprendi a fazer o útil exercício da apneia, para não ter de respirar a fumarada nauseabunda que era emanada do cigarro que sempre adornava os lábios do novo conviva.
Qualquer dia entro para o Guinness book of Records, só me faltam 5 segundos para bater os 6m e 4s do record mundial.
Adaptei o meu “relógio biológico” a ter que se governar com 2 horitas de sono diário, porque o banzé que o estimado “guest” gerava quando chegava a casa (sempre depois da meia noite) e o posterior ressonar, era de tal ordem, que não me restava outra alternativa, que não fosse pôr a leitura em dia.
Sei dizer que li a obra integral de Fyodor Dostoyevsky em 8 dias (ou melhor, noites).
Foi de facto um período rico em cultura e saber, sem dúvida que foi.
Passei a conhecer os sinistros meandros do futebol profissional Português, porque não havia mais assunto de conversa às refeições.
É fascinante a quantidade de informação que aquela cuca armazenava, só de ler os jornais desportivos.
Fiquei com uma tonicidade muscular invejável, graças ao esforço adicional que fazia ao limpar toda a merda que aparecia por toda a santa casa, como que por geração espontânea.
A comida “eclipsava-se” do frigorífico em menos de um fósforo. O meu hóspede tinha um apetite de debulhadora! Está em fase de crescimento, o “pikeno”.
Tive por isso de experimentar uma saudável dieta que consistia numa fina folhita de mortadela envolta numa bucha do dia anterior, acompanhada por fim, por uma sumarenta peça de fruta.
Perdi 20 kg e recuperei a minha elegante e curvilínea silhueta, que mais posso eu querer?
Sinto-me exausto, porém satisfeito, porque além de ajudar um querido familiar, descobri em mim faculdades até então desconhecidas.
Isto sem falar do saber de experiência feito, que adquiri ao longo deste tempo.
Foram só vantagens, não achais?
Nem vos conto! Por exemplo, a partir do momento que as minhas colunas de som passaram a debitar mais de 2000W de “Trash Metal” durante mais de 4 horas por dia, descobri o poder relaxante que um soalho vibrante exerce nuns costados hirtos e cansados.

domingo, abril 17, 2005

O triângulo das Bermudas é no centro de Lisboa

Há cerca de dois meses inscrevi-me num famoso health club nas avenidas novas. Uma promoção do dia dos namorados permitiu-me não pagar jóia, desde que proposto pela cara metade. Apesar de eu ser muito homem, porque sou, porque eu não sei apreciar homens, mais ó caralho, que eu não admito cá insinuações, foda-se!, ai de quem!, é que não desejo a ninguém, lá aceitei o repto de um amigo meu. A abertura de pensamento e tolerância que nos trouxe o final do séc. XX permitiu-me ser proposto por alguém do mesmo sexo sem grandes vergonhas. Isto não interessa a ninguém, mas confesso que ainda temi que eles quisessem uma prova da nossa relação amorosa com um beijo público. Assim não foi, perceberam até que eramos apenas amigos (do peito, fiz questão de frisar, desde pequeninos), mas que a política do dito health club era de aumentar o número de sócio, fosse como fosse.

O que vos quero contar é o que tenho vivido desde então. Reencontrei nestes dois meses, entre aulas de yoga, técnica pilates, body balance, cardio fitness, musculação e step, inúmera pessoas que não via há anos, décadas mesmo! Ex-colegas de liceu, a miúda enfezada que marrava violentamente nos livros para ser a melhor aluna mas que tinha o permante ódio pela outra aluna que conseguia ser um bocadinho melhor, a Anabela que tinha o melhor par de mamas do liceu, mamas essas que viram passar entre si um pequeno pedaço de giz, não desperdiçando a oportunidade que o top provocante deu a uma aposta que fiz com o brasileiro, encontro colegas de trabalho, ex-colegas de trabalho, amigos de amigos, amigas de ex-namoradas. Um fartote.

Hoje, estava eu na bicicleta, olho para para a esquerda, claro, e lá estava o Francisco Louçã!!! Que raio, até simpatizo com o rapaz, mesmo, estive quase para votar nele, mas depois fui ver o Benfica, mas não esperava encontrá-lo num health club com público alvo de classe média-alta.
Ocorreu-me a seguir que talvez esteja a alargar, ou mesmo alterar, a faixa socio-económica. Se um chunga como eu pode ser sócio, talvez estejam a deslocar o alvo para a faixa média-baixa. Eu então estou eu a subir de status! :-)

Seja como for, o Francisco Louçã, a bombar a bom bombar no cardio-fitness era coisa que eu não esperava. Para dizer a verdade, já mo tinham dito, mas como ainda não tinha visto com os meus próprios olhos julguei tratar-se de mais um mito urbano. Fico com alguma vontade de, entre um banho turco e um jacuzzi, lhe perguntar como vai a luta pela igualdade das classes. Imagino-o a sorrir, e dizer, com os músculos massajados pelas bolhinhas: "Vai bem, obrigado!"

Depois de uma longa ausência quis relatar-vos este episódio. Mais um mês deste ginásio, verdadeiro triângulo das Bermudas lisboeta, e imagino-me a escrever os seguintes posts:

"Ganhei uma corrida de eliptica ao Francisco Louçã!"
"O Paulo Portas tem o rabo gordo e passa a vida no Legs, Bums e Tums"
"O Santana Lopes só vai ao ginásio para topar o cú às gajas!"
"Incrível, vi a pilinha do Marques Mendes!"
"Encontrei o D. Sebastião no banho turco!"

quarta-feira, abril 06, 2005

A teta da Pimpinha

Travessia do Tejo

Gosto da aragem fria do Tejo. Lava-me a alma. É reparadora.
Sentado num cacilheiro, leio com saudade um postal de um amigo que deixou família e amigos para rumar a outras paragens.
Estava farto da vida neste país e resolveu arriscar e jogar com o destino. Eu compreendo, mas sinto a falta dele.
Ao ler estas linhas de quem me é tão querido, deixo o meu olhar fugir para o horizonte e mergulhar num rio das recordações.
Dizem que a vida é feita de momentos, pequenos momentos. Vulgares como tantos outros mas de extrema importância na nossa caixinha de memórias.
Serão esses retalhos de vida, que condensados numa fracção de segundo, passam pelos nossos olhos quando estamos às portas da morte? Se assim for, o que será que me irá tocar?
A porta da sala de aula a fechar no meu primeiro dia de aulas? O sorriso da minha avó? O bigode de algodão que o meu avô colava com sabão quando fazia de pai natal? O primeiro broche, deitado no areal de uma praia da costa da caparica? Ver o Carlos do Carmo a cantar “Os putos”, sentado ao lado do Ary? A dança de pernas do Mantorras antes de marcar um golo? Aquele golo a dois tempos no Pro Evolution Soccer? Aquele fabuloso almoço no outro lado da serra? Aquele grito lancinante numa tenda algures no Algarve? A mensagem subliminar numa certa cassete vídeo com um programa doHerman? Havia tantas pedras preciosas para escolher na caixa do tesouro da memória...
Embalado ao ritmo do Tejo, continuo a ler o postal e penso em voz alta:
-Um grande bem-haja para ti, querido amigo! Boa sorte para piano bar. O Sean Connery brasileiro já te fez a folha?
Ao ouvir o sinal de chegada, levanto-me com coração cheio daquele sentimento agridoce, que é a saudade.

segunda-feira, abril 04, 2005

Folhas de Outono

Às vezes imagino-me velhinho. Curvado e de passo arrastado, lá vou eu pelo jardim da estrela fora, a abrir caminho entre a seca folhagem de Outono, para mais um encontro de convívio com os os outros colaboradores deste “blog”, também eles já bastante encarquilhados.
Para fazer tempo, decido sentar-me num banco de jardim perto de um grupo de gaiatos que jogam à bola.
Imóvel e em perfeito contraste com o dinamismo e energia daqueles putos, fico ali a observa-los e recordo-me de tempos idos.
Tempos em que éramos imortais e heróis de mil aventuras e tropelias, em que nada mais importava na vida do que chegarmos primeiro à água quando íamos à praia com os amigos. Não há tempos como esses! O mundo inteiro por desbravar e sonhos por conquistar! A pureza do sorriso de uma criança…
Enfim, como era bela a doce ingenuidade da infância!
Observo aqueles putos e imagino-me ao lado deles a correr desalmadamente com a roupa suada já colada ao corpo.
Um brilhozinho tremeluzente dança nos meus olhos e um rasgado sorriso forma-se no rosto marcado pela vida.
Por momentos fecho os olhos e deixo viajar pelos socalcos faciais, uma gota que condensa toda a esperança que um velho pode ter nesta vida.
Estive imerso num remoinho de emoções até que a bola veio ter comigo.
Abro os olhos e vejo todos aqueles petizes à minha volta.
-O “avô” está bem?
Respondo-lhes e quando esboço a intenção de me levantar, todos eles ajudam a erguer e a equilibrar este corpo flácido e cambaleante.
Antes de partir, resolvo partilhar um ensinamento muito importante para a vida futura destes petizes.
-Olhem lá putos, quando arranjarem namorada, ela que cheire bem da cona, hã!
Dito isto e depois de me despedir com ternura, lá vou eu novamente, a abrir caminho entre a seca folhagem de Outono, para mais um encontro de amigos…

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