domingo, maio 01, 2005

Sweet little sixteen

Uma das imagens que mais me marcaram nas telenovelas brasileiras (não sei se vi muitas ou poucas) é a das discussões entre homem e mulher, com esta de braços cruzados, de costas para o homem, ofendida, a olhar discretamente sobre o ombro, a controlar à distância, dizendo coisas como: "Eu não txi quero verr mais ná minhá frentxi!" ou "Sai daqui, cafagestxi, somi da minha casa!" ou ainda "É impossíveu perrdoá, Dariceu, como você consegue serr tão crápula. Com a Milú, a minha própria cadelinha!". Depois ele aproxima-se diz-lhe coisas mansas, tenta abraçá-la por trás, ela diz: "Mi larrga! Tira suas mãos porrcas de cima dji mim!" e ao mesmo tempo vira-se. O abraço torna-se numa aparente zaragata de membros e eis que irrompem os dois num sôfrego beijo com os corpos a enlear-se novamente e a música do Roberto Carlos a surgir em fade in.


Foi com enorme ternura que observei a reacção da Margarida C. às farpas que lancei numa discussão recente. Só confirmou o que já sabia. Infelizmente escrevi esse post sem grande cuidado, tinha alguma pressa por compromissos inadiáveis, e lembrei-me depois, já tinha saído de casa, de uma série de pormenores que teria sido interessante acrescentar na caracterização psicológica da Margarida C.. Mas a resposta que me deu ajuda também a ilustrar o que tinha esquecido. Passemos então à dissecação:

Para começar, toda a resposta usa a ironia como recurso retórico. É como mostrar um sorriso quando se arde por dentro, ou como dizer "Mi larrga!" quando se quer ser abraçada e beijada sofregamente. Tudo são escapatórias:

1ª - dar-te-ia a minha opinião aprofundada sobre o teu post se não fosse contra os meus princípios. Mas vou sumariá-la portanto.
Na verdade a Margarida C. ficou bastante tempo a pensar no que havia de escrever. Pensou: "tenho que dar a resposta que ele merece!". Depois, não tendo ficado satisfeita com as ideias que teve, resolveu invocar os seus princípios para fazer um post mais resumidozinho portanto.

2ª - Desilude-me que resumas o sexo feminino a duas categorias tão desinteressantes.
Isto não é retórica. É um argumento usado com sinceridade. Há pessoas que se irritam com generalizações e a Margarida C. é uma delas. As generalizações são isso mesmo, arredondamentos que não têm em conta a excepção. Mas confesso que o método cartesiano me seduz e fascina, e sempre encontrei virtudes na análise dicotómica dos problemas. O que fiz foi precisamente isso. A população humana divide-se genericamente em mulheres e homens. Cá está: primeira generalização que não engloba nem respeita algumas excepções. Mas é um ponto de partida.
A Inês L. anda desesperada por saber o que penso de ela gostar de linguagem ordinária mas não a usar socialmente por decoro. É simples a explicação: esta assumpção da Inês L. é certamente recente. Inicialmente a Inês estava na sub-categoria das mulheres que gostam de palavras porcas. Depois cresceu, conheceu uns amigos e amigas, entrou na corrente cultural de liberalização de costumes e percebeu que há coisas que não tem mal nenhum gostar ou fazer. No entanto, há certas regras de etiqueta que convém manter. E eu, já o disse, acho-o excelente! Não há nada mais inestético que uma mulher usar vernáculo no seu discurso. Há apenas um momento em que pode dar largas à criatividade linguística, mas não vou agora falar disso.

3ª - Embora, de alguém tão erudito como tu, esperasse algo mais original.
Não sou erudito, não tenho pretensões a sê-lo, pelo menos para exibir essa erudição junto de amigos e conhecidos, e este blog nunca fez critica literária, nem musical, nem outra qualquer criação artística nobre. Não sei, portanto, onde foi a Margarida C. buscar essa ideia. É que se por um lado é dado como opinião, notem que há, mais uma vez, uma ligeira ironia no discurso. Vindo da piquena, I'll take that as a compliment. (cada vez mais roto, porra!)

4ª - Contudo, sei que faz tudo parte do acting e não quero de forma alguma arruinar a tua performance.
Querer até queres, mas por outro lado se esta interacção bloguística te está a dar tanto gozo como a mim, é bom que dêmos uma no cravo e outra na ferradura. Assim, prometo que no fim deste post já vos estou a enviar beijinhos queridos e fofos!

5ª - Em relação a mim, acertaste em cheio.
Eu sei, e isso é que te irritou. Deves ter passado largos minutos, enquanto pensavas na resposta, a telefonar às outras três amigas do blog a dizer, "O bastard acertou em cheio! Tenho que lhe responder mas não sei bem como..."

6ª - A tua conclusão é brilhante. Poupaste-me uma consulta ao psicólogo, estou-te eternamente agradecida.
E aqui vai mais uma ironiazita para disfarçar algo que também já pensaste fazer. Não tem mal nenhum ter querer ir a um psicólogo. Eu tenho quase o dobro da tua idade e sempre senti necessidade de ir, embora a exorbitância pedida nos consultórios me afastasse sempre. Mas há sempre coisas mal resolvidas, traumas, vergonhas, bloqueios e inseguranças que nos tolhem as acções, nos proíbem de fazer o que gostávamos de fazer. É possível ir resolvendo isso pela vida fora, sem intervenção especializada, mas requer alguma inteligência. Não estou a ser irónico, Margarida, sei que a tens de sobra para o fazer. :-)

7ª - Fico aliviada por me inserires na categoria à qual achas mais graça.
Inseri-te na categoria à qual acho mais graça, sim, e sei que não falhei. E é por isso que me tenho dedicado tanto a escrever no blog. Acho-vos a todas personalidades cativantes e muito excitantes.

8ª - Já posso dormir descansada.
E sei que estás a dormir descansada a esta hora, quentinha, aconchegada nos lençois, vestida com um pijama com ursinhos. (Não faço ideia se isto é verdade, mas é como te imagino. Assim, menina, num corpo adolescente que ainda não conheces completamente.)

A fotografia do Carl Jung que juntaste ao post ("Deixa-me cá ir ao google procurar imagens desse tal Carl Jung...", pensaste enquanto escrevias a resposta) é gira.
Mas vou deixar-te outra fotografia de um guru da psicologia cognitiva que tem muito mais a ver com Does it ring a bell?



Num congresso do CDS-PP de há uns anos, lembro-me de ver a Maria José Nogueira Pinto dizer ao António Lobo Xavier: "Tu sabes que eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes.". Pensei para comigo: "Eh pá, que momento do caralho! Hei de usar esta frase um dia destes!" Et voilá!

6 Comments:

At domingo mai. 01, 08:51:00 da manhã, Blogger Inês L. said...

You're wrong:-).

 
At domingo mai. 01, 02:59:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

LuaNova 1 - Margarida C. 0

Vamos a apostas, meus senhores?

 
At domingo mai. 01, 06:25:00 da tarde, Blogger Inês L. said...

Houve uma coisa que eu achei engraçada! Não apanhaste a dica do título do post da Margarida. Ora lê e reflecte;-)!

 
At domingo mai. 01, 06:41:00 da tarde, Blogger LuaNova said...

Olha que caralho, pá! Estas miúdas acham que um gajo tem que fazer referência a tudo! A joke do título era sobre o fotografia dos rabinhos que as meninas nunca tiveram coragem de enviar. E pelos vistos nunca terão, só que preferem fingir que é por despeito que não a enviam. Eu claro que ainda tenho uma certa esperança, minhas queridas!

 
At domingo mai. 01, 07:04:00 da tarde, Blogger Inês L. said...

Como queres que não achemos que se não dizes é porque não percebeste? Tu até subdivides as tuas respostas por tópicos! Dá mesmo a entender que não queres que te escape nada!

 
At domingo mai. 01, 10:52:00 da tarde, Blogger Inês L. said...

Eu lembro-me de muito mais... mas tal como ele disse, não comentar determinadas coisas não quer dizer que não tenha reparado. Eu só não fiz eu própria um post porque acho(e tenho ouvido algumas críticas em relação a isso) que o blog está a ficar demasiado direccionado para vocês. Eu aprovo a interacção bloguística! Mas de forma moderada. :-)

 

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