quarta-feira, julho 12, 2006

A day at the office.

Estava farto! Saturado dos mesmos lugares, dos mesmos cheiros, dos mesmos rituais.
Todas as manhãs era a mesma coisa, aturar os mesmos colegas chatos, milhões de telefones a tocar incessantemente e as “galinhas” a rirem histéricas na cozinha.
Tinha a cabeça a estalar!
Achava-me também injustiçado com a minha posição na empresa, já para não falar na remuneração que se mantinha inalterada há quatro anos.
Enquanto uns fumavam cigarros no hall e aperfeiçoavam a fina arte da “graxa ao chefe”, outros como eu, bombavam trabalho como se não houvesse amanhã.
Aquele ambiente não era para mim.
Após variadas tentativas frustradas de mover a malta para exigir justiça e igualdade para todos, resolvi tomar medidas por minha própria iniciativa.
Eu sei que nestas questões a união faz a força, mas caguei para isso!
Decidi fazer a minha “insurreição”, por assim dizer!
Dirigi-me ao gabinete do chefe e explanei as minhas inquietações o melhor que pude, dadas as circunstâncias.
Não é fácil falar com um chefe que passa mais tempo a vangloriar-se do brutal bólide desportivo ( vulgo carro do prazer/engate ), a combinar dates com amigas do “pêto”, a ver mamas e cus no ecrã do portátil e a passar os olhos por tudo o que é impressa cor de rosa.
Nem se dignou a fechar a porra da “Nova Gente”!
Tive ganas de dizer:

- Desculpe que lhe diga, com todo o respeito, o Sôr Engenheiro e filhos de puta como o Sôr Engenheiro mereciam justiça popular em praça pública! Era o Sôr e o Gaspar Ramos! Madraços! E se o sôr fizesse um rolinho com a puta da revista e a metesse nos entrefolhos, das regadas, das aldrabas, das contrapipas do centro da peida, hã??!

Enfim, depois do Sôr Engenheiro me ouvir e reflectir um pouco sobre o assunto, levantou-se e exclamou:

- Tem razão Sr. Ramires! O Sr merece outras condições de trabalho. Esteja descansado, a partir de hoje o caro amigo vai ter um espaço só para si.
Um local sossegado e livre de confusões.
Vai deixar de se preocupar com o bruá do escritório, com os fumos dos cigarros, com as diferenças de temperatura do ar condicionado, do WC sempre ocupado e com os vírus que os seus colegas lhe mandam por e-mail.
Vai ver que vai gostar, tenho o sítio ideal para si!

Agradeci-lhe a compreensão e depois de algumas horas fui encaminhado para o meu novo local de trabalho.
Ele tinha razão, isto aqui é outra loiça!
O meu novo “spot” situa-se numas galerias escuras vários metros abaixo do solo.
As paredes de pedra infectas de sujidade e musgo e o ambiente quente e húmido são sem dúvida bem diferentes do que se passa lá em cima no escritório.
O chefe pensou em tudo.
Tenho finalmente um espaço só para mim!
Aqui tenho um ralo para fazer as necessidades e a um canto da sala está uma secretária velha e um banco de madeira com uma perna empenada.
É realmente um sossego!
O silêncio só é cortado pelo som dos meus dedos a bater nas teclas da máquina de escrever, pelo acender da vela que alumia a sala e pela malga de arroz num prato de plástico que me é deixado pela janelinha da porta de entrada.
Está-se bem.
Aqui não há aqueles horrendos fumos a tabaco, só há cheiro a fezes e a bafio.
Agora é que vai ser produtividade.
Num ambiente calmo e sem distracções como este, vou ser uma pessoa mais produtiva e sem dúvida mais feliz.

4 Comments:

At quinta jul. 13, 12:02:00 da manhã, Blogger LuaNova said...

Precisas de lápis? Queres que te vá levar um volume de Português Suave?

 
At quinta jul. 13, 10:44:00 da manhã, Blogger Mundus said...

Se puderes leva também meia dúzia de "bolas de neve", um transistor pequeno e um jogo de pilhas das piquenas, xa vôr.

 
At quinta jul. 13, 11:42:00 da manhã, Blogger Charlotte said...

Ganda Maluco!!

 
At quinta jul. 13, 11:50:00 da manhã, Blogger Mundus said...

Maluco mas em sossego!

 

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