Reflexão dominical
Alguns problemas gastroenterológicos que me massacram o estômago desde algumas semanas, impedem-me de comer livremente como dantes, de encher a pança até mais não caber, de consumir tudo a que tinha direito.
Continuando o debate sobre os pecados mortais, debruço-me então sobre a Gula. Recolhendo a punição pela fraqueza no momento imediatamente a seguir ao pecado e não em morte, num qualquer lugar sulfuroso e flamejante, vejo-me obrigado a reduzir o prato para medidas sub-sarianas. Não tendo tido catequese em menino, sou agora vítima da minha ignorância, mas apelo à ajuda dos meus fiéis leitores para esclarecer algumas dúvidas.
Dadas as circustâncias, em que como tão pouco e tão simples como qualquer monge budista, o pecado da Gula está arredado das minhas culpas? Ou o continuar a salivar sempre que trespasso uma loja gourmet ou mesmo uma charcutaria de hipermercado revela que o desejo se mantém e com ele o pensamento pecaminoso?
Ou seja, a quem está reservada a salvação da alma, aos que não sentem tentação, aos que sentem mas não caem, aos que sentem mas são obrigados a não cair?
A pureza da alma é um mérito em si? Quem não sente desejo tem algum mérito na candura da sua vivência? Não terá muito mais quem passa a vida tentado por todos os lados e mesmo assim resite com quantas forças tem? Não será mais louvável este esforço hediondo por lutar contra a própria natureza, amputando prazeres imensos, mesmo que por vezes as forças não sejam suficientes para resitir? A culpa sentida a seguir não é já uma auto-punição pela fraqueza do espírito? Temos culpa da nossa própria natureza?
E quando nos apercebemos que não fomos responsáveis pela nossa própria natureza, pela configuração da alma que Deus nos atribuiu no momento da Criação, e deixamos de sofrer pena pelos pecados fraquejados, tornamo-nos alvos maiores do juizo divino?
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