sexta-feira, junho 09, 2006

Quando estala o verniz.

Antes que venha uma súbita e nefasta vontade de trabalhar, e visto que a minha sandocha de torresmos já marchou, aproveito a minha horita de almoço para escrever umas linhas.
Estão a topar aquelas famílias de “emigras” vindas de França, cheios de cagança e boas maneiras do beco das galinheiras?
É vê-los de Mercedes branco imaculado ( topo de gama, claro ) a chegar à praia cheios de adereços.
Ele é chapéus-de-sol de cores, corta ventos, marmitas de comida e toalhas de cores berrantes.
A família de “emigras” comum, em regra é constituída por:

Chefe de família – Homem de meia-idade, de pose pomposa e barriga proeminente.
Nos dedos repousam grandes cachuchos e no pescoço cordões de mais 2 Kgs de “órina”.
O bigodinho à Clark Gable e cabelo todo puxado para o lado a tapar a careca são igualmente imagem de marca.
A voz grave e autoritária comanda toda a família e “aide” quem não obedeça de imediato às suas ordens.
Toda a famelga destila cagança, mas o “chefe de família” refina esse conceito.
Ele é o supra-sumo da barbatana.
Cheio de delírios de grandeza, ele julga-se o máximo.

“Esponja” ou esposa – Senhora de fino recorte e de perfil altivo. Grande fã do Toni Carreira, distingue-se pelo “piaço” cheio de laca e pelo sebum acumulado nas unhacas das unhas dos dedos dos pés pintados de vermelho vivo.
É capaz de opinar sobre tudo e fala como se não houvesse amanhã, especialmente ao telemóvel ( os toques polifónicos pirosos são um must! ) com as amigas.
Tem a sapiência de uma pedra da calçada e a uma inteligência e sensatez apuradas.
São muitos anos dos “consultórios” sentimentais que constam na revista Maria e afins.

Petizes ou mais vulgarmente conhecidos como Putos do caralho– Crianças de trato adorável. Fazem sempre notar a sua presença num raio de 250m e geralmente as pessoas ao seu redor são acometidas de fortes cefaleias e sorriem quando subitamente pensam em torturas medievais.
Brincadeiras divertidas como atirarem areia uns aos outros, cuspirem-se e envolverem-se todos à porrada são o seu forte.
Guinchos e alarido em barda fazem muita gente repensar a pena de morte.

Eles fazem tudo para parecer aquilo que não são e para quem os observa à distância são criaturas fascinantes, um alvo perfeito para um estudo sociológico.
Alheios à sua figura ridícula, os “emigras” poluem o ambiente com a sua presença.

- Jean Pierre, vient ici, s'il vous plait. – exclama serenamente o chefe de família, chamando o filho com uma sandocha de tulicreme nas unhas.

- Ó Bitaro, olha que a miúda está meter areia na cona! – grita a esposa em pranto, deixando voar o imenso chapéu de palha pela praia fora.

E assim estala o verniz. Quando a fina camada de “finesse” desaparece, revela a boçalidade em todo o seu esplendor.
Os tugas têm destas coisas. É assim, não há nada a fazer.
Portugal no seu melhor, mas é o meu país e é o país que mora aqui dentro deste c’raçãozinho boçal!

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